A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão.


às vezes tenho vontade de entrar dentro de mim e arrancar fora este buraco que habita em mim, dai então, pular pra dentro dele!
Turmalina Antônia

sábado, 6 de dezembro de 2014

escreve um

escreve um de improviso
com o dedo enfiado no olho
e a boca calada de medo

escreve um de soslaio
com o coração em /frangalhos
só que não é bem verídico

escreve um de bobeira
com a mão onde bem queira
e os pés de sandália /rasteira

escreve um de jornada
com a vida bem lascada
só que é uma mentira /danada...

Tunízia M.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Shhh

Silêncio
Assim eu penso
Assim eu danço
Assim descanso





Silêncio
Sou só espírito
Sou ser empírico
Sou sim simplório




Silêncio
Assim balança
Assim de balaio
Assim me alcança




Silêncio
É meu refúgio
É um incógnito
É meu mistério




Silêncio
Assim sou santa
Assim sai tato
Assim sem manta




Silêncio
Aos meus ouvidos
Aos meus encantos
Aos meus amigos.



Tunízia M.


Fotos: Espetáculo Tempo Ausente - Sesc Campinas 
Grupo Ares e Pedra Branca (SP) ocupam a Estação Cultura
Fotos: Juliana Hilal.
#cidadeocupada)

A tinta AdentrA

Tattoo de Wagnão Tat2


A vida
Enquanto canta
Em contos
E desce
E sobe
E conflita.
Há Cântaros cálidos
Que vem
E destrói

O que vinha.

Turmalina Antônia

SinaiS

Por Flavio Aguiar

A girar, sem pé, nem cabeça
teu grito me atravessa 
e chega a lugar nenhum
és uma pulsão de espaço
a lua é morta
e seu brilho oculta
a densa morte da matéria
em seu lugar, em vão
buscamos decifrar cristais
dispersos pelos confins
eu te abraço
a matéria levou incontidos séculos
para desenhar tua boca
a densa vida, a matéria
que nos reduzirá a pó
vejo o esgar de tua boca
as mãos os passos apressados
teu ganhar tua vida
o prazer, a matéria é muita
e tem confins de congelado calor
buracos negros que nos queimam
explosões que não se ouvem mais
a força de me roçar tua pele
a extraordinária força de me sorrir em ti
de me dizer sim, de me dizer não
a matéria tem a força de teu peso
/sob o meu
é a matéria que grita em minha boca
e que arqueja em plena tua
/matéria nua
vamos a lugar nenhum
perdidos no ardor da noite
viajando pelos anos-luz
ardamos de calor e brilho
a noite é imensa
os viajores amam os sinais


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

minuano

Por Flavio Aguiar

A chuva escorre na vidraça: na rua, o vento uiva.
A geme, na árvore dobrada.
Lembrança - o vento pertence ao campo.
O que vi: o campo verde, minado pelo cinzento.
Uma rês geme, vagabunda, gotejante: o vento
/a corta, como faca.
Estranha faca: gelo e água.
O vento nasce e morre no horizonte: o mundo
/é curto.
E no entanto o tempo passa: 
Do campo, o vento chega arrefecido na cidade.
Protegido no copo de conhaque, divirto-me
/com os desenhos abstratos
Que desenhas em gotas na vidraça
E no entanto o vento uiva, mesmo na cidade:
/tem presente seu passado.
Mais estranho: o mundo é curto, o vento
/nasce e morre no horizonte:
E sempre segue o rumo norte.
Aquarela
Tum Aguiar

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Como?

Caravelas
Carcomidas
Cozidas
Com Cascas Claras
Cerâmicas
Quebradas
Coladas
Com Cacos Castanhos
Cabelos
Cacheados
Cortados
Com Coifas Queimadas
Qués
Coisas
Caladas
Como Cocos Colhidos

no pé

Turmalina Antônia

São P.

São Paulo
não me consome;
Me some.

Tunízia M.

domingo, 30 de novembro de 2014

Estás Só


Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge. 
Mas finge sem fingimento. 
Nada 'speres que em ti já não exista, 
Cada um consigo é triste. 
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas, 
Sorte se a sorte é dada. 

Ricardo Reis, in "Odes" 

domingo, 9 de novembro de 2014

Altos e Baixos

Por Guilherme Becker

FIM

Quando eu morrer batam em latas,
 Rompam aos saltos e aos pinotes,
 Façam estalar no ar chicotes,
 Chamem palhaços e acrobatas!

 Que o meu caixão vá sobre um burro
 Ajaezado à andaluza...
 A um morto nada se recusa,
 Eu quero por força ir de burro.


Mário de Sá Carneiro

TABACARIA


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
_____________________________________________________
Álvaro de Campos

Mundo Grande

Por  Carlos Drummond de Andrade

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem minhas dores.
Por isso gosto tanto de contar.
Por isso me dispo,
por isso grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! nós te criaremos.

domingo, 2 de novembro de 2014

FreqüentemenTe

Eu; m'á mente
fraca... temente... temática...
face de frente
meu frete é de graça
assim sereno
fácil de molir
e a frágil força
de te sentir
tem-me toda
freqüente quente
eu; fogazza...

Turmalina Antônia

sábado, 1 de novembro de 2014

No buteco Ali da esquina

Vou Vivendo Assim
No Meio Do Caos
Som Alto Tocando Assim...
" Se quiser me encontras Só
Agora ou nunca mais"..,
Pessoas Bebendo Assim
Sem Luz Nos Olhos
Televisão Ligada Assim
Violências Visuais,
Poluição Sonora
E Muito Mais
.
Meu Corpo Cansado
Cataclismo de IdeIais
Curvatura e tudo o mais,
Estou nos trinta enfim,
Atrasada e perspicaz.
Auge de Algo de Alga
Que chegou ao fim
Além do que imaginais....

Tunízia M.

Mãos Dadas

MÃOS DADAS 

por Carlos Drummond de Andrade



Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.



terça-feira, 21 de outubro de 2014

21:56

Aqui vai
Foi algo lindo
Fui haicai
Ali ni limbo

Defiz o ai
Deixei o erro
Calei de mais
Constantinermo

Bebi sim
Com talvez
Quase comi
Se não, beltrês

Nem de mais
Nu de menos
Queimada cais

Seli lá profenos

Tunízia M.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Es Folha Pele


Gostaria de descolar a pele do  rosto,
E estica-la no chão.
Para poder pisa-la, ida e volta
Até in reconhecer -me o medo do não.

Que tal estica-la na sala,
Projetando filme de reflexão.
Tentando esbranquiça-la,
Até desconhecer do porque  veio a razão.

Porque não veio a gosto,
Veio a revelia!
Mais que . Valia à quietude,

Se  falou-me alto do salto; Emoção.

Turmalina Antônia

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Mano Melo- Sexo em Moscou

Sexo em Moscou
[Mano Melo]

Quando comecei a passear meus dedos
Pela sua marighelazinha já ficando molhada
Ela teve medo e recuou na resitência:
– Stálin! Stálin!
Mas depois deu uma olhada
Viu meu sputinik pronto a entrar em órbita
Exclamou feliz da vida:
– Que vara! Que vara!
– Que nikita mais krutschev!
Eu era o sessenta
Ela era lunática rainha lunik 9
Me sentia como se estivesse dando um cheque-mate
No próprio Karpov
E por não ser nem fidel e nem castro
Lambi sua rosa de luxemburgo
E a linda bolchevique geminha tesudinha:
– Ai língua de seda,
Maravilhosa,
Me lenine toda, meu bem
Me lenine toda,
Todinha!
Arranhava minhas costas com suas unhas de mil caranguejos
E sussurrava entre beijos:
– Marx! Marx!
E o colchão de molas rangia:
– Mao tse tung! Mao tse tung!
Me chamou de seu tesão
Maiokovsky do sertão
Engels azul do meio dia
Poeta do real
Sua fantasia
Olhou-me nos olhos e disse:
– Tú és o meu Brejnev!
E ficamos por um tempão
Deitados no colchão de neve
E nos amávamos
Esperando o intervalo
Entre uma e outra greve
Trotsky! Ela tinha uma bezerra gregoriana
Que deixava lamarcas
E quando o êxtase atingiu ao seu máximo górki
Quando estava prestes a acontecer um orgasmo dissidente
Sussurou rangendo os dentes
– Chove dentro de mim,
Chove, chove,
Gorbatchev!

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Eu Também Acho

Acredito e encaixo
Desejo despacho
Me baixo pra não
Bater cabeça de balaio
Onde desencaixo
O eixo do tacho mourão,
Me ponho embaixo
Donde capacho
Era pano de chão.
É lá que me deito
É la que me acho
É la que sou tão!

Tunizia M.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

20/07/14

Hoje to sentindo
Inpena de mim
Mesma não me perguntem
Porque!?
Nem como?
Onde?
Nem cadê?
Hoje eu to
Sentindo a mesma
Ausência de
Auto-confidência.

Turmalina Antônia

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Só que Não...

Escrevo hoje quase que pra bater cartão.
Será que prefiro este estado?
Um que de quase sem emoção.
Humor sarcástico ligado,
Estaca enfincada no coração.
Devo estar de ovo virado,
Escrevo hoje por obrigação.
Para fingir aliviar o eu magoado,
Para fingir um tipo de reação.
Será que quero o guardado?
Uma nota  no jeito da ilusão.
Uma lambida amarga no peito aguado,
Um cantinho apertado  da minha exclusão.
Escrevo hoje de ego ferido,
Me agarro em algo maior que minha mão.
Me esquivo do obvio feito sabido,
Me escondo em panos dentro da escuridão.
Minha casa, meu sítio, elo escondido,
Só sei falar de mim, só sei falar de sim, só que não...


Tunizia M. 

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Carta para Eu

Escrever direto aqui?
porque não deitar-me
e pra sempre dormir?

Lendo na borra do café no copo,
riscando o fundo do lodo no corpo.
Escrever; 'Cair no poço não posso'!

Quebro o silencio na mão.
Levanto os pés pra deitar-me
e sentir o peso do chão.

Ato com palavras em nozadas
meu Eu e  jogo pras bestas-feras.
Quebro minhas próprias pernas.

A calma inquieta quer gritar!
Porque não deitar-me
até a hora do vento passar?

Esta mesmo sentindo ou alucinada ser?
Acredita de mais nesse querer
A alma indiscreta quer ver

Posso só ir até ali?
rapidinho, de repente deitar-me
e quem sabe sumir?

Me espalhar pelo mundo vestindo um capuz...
desintegrar em mil partículas de pus,
Posso correr na velocidade da luz.

Fico. Prefiro ficar!
Porque sim! Quero e fim. Vou deitar-me
na rede com meu olhar a balançar.

Tunizia M.



quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O Pulo

Pois é, pulei muita coisa nessa vida... e já dei muito pulo tb.
Ja comecei não tendo minha fase "menininha bonequinha rosinha" (UFA!) jogava bola ao invés de brincar de casinha, dai vai.
Da vida saudável no meio do mato que tive até os 12 anos já pulei pra vida 'junkie' da cidade grande de fato,
Por sorte, destino ou sina do pulo, o circo estava lá pra me fazer pular de botecos a abdominais, de cigarros a cordas indianas e o trapézio de vôos me segurou do lado de cá desta corda bamba das decisões juvenis. Mas gosto de dar um pulinho do lado de lá de vez em quando, afinal como diz Mário Quintana: "Deixem o outro mundo em paz! O mistério está aqui!"
Da menina feia, que as amiguinhas corriam atrás pra passar baton alegando q eu não era menina se não passasse, que muitos na rua achavam q era homem, apelidada carinhosamente de Tonhão pedreiro pelos amigos, que muitos juravam q era sapatão, pulei pra  a gostosa que todos queriam comer com apenas 13 anos, com uma beleza excêntrica, exótica, estranha... (hoje me sinto um homem gay preso dentro de um corpo de mulher, rss)...
Comecei a trabalhar aos 16 anos, não fiz faculdade, curso profissionalizante, TCC, ETC...
Deixei de conhecer muita gente que conheceria nesta fase, mas tb conheci muita gente pelo mundo que não conheceria se estivesse presa nela...
Trabalhei tantos anos sem NF, PAC, ProAC, ART, NR35, ASO, SV, e tantas coisas mais. Até já passei alguns anos sem RG, CNH, Passaporte e com o nome sujo no CADIN. Vou pular esta parte tb.
Agora o sistema deu seu pulo e ta querendo engolir todos os "marginalizados".
Nos amores, nem me fala; Da menina q só ficava pulei pra um casamento de 5 anos. E me separei aos 24. A maioria das vezes me pularam, me largaram pra viver uma vida melhor, demorei pra entender q eu não era a causa do termino e sim a ponte pra vida melhor... será? Mas não me venha com:"o problema não é você , sou seu..." que dai eu pulo na sua cara e encho de porrada!
Já pulei de um mau relacionamento pra um pior ainda, até aprender a lidar com a auto-carência.
Pulo da maior alegria à tristeza absoluta facilmente e vice-versa mas sei que felicidade é uma decisão e não uma conseqüência por isso prefiro pular de alegria. Mas se for falar de auto-estima, psicologo, assuntos pessoais; pulo, arrepio e mostro os dentes na hora.
E todas as vezes que estive na beira do fundo do poço: pulei de cabeça, mas também aprendi pular de cabeça em boas aventuras e a reconhecer boas amizades!!!
Eu já pulei de galho em galho, de onde não devia, já pulei numa perna só e na cachoeira mais gelada nem pensei; pulei!
Peguei muita gente no pulo e pego gente que pula, faz parte do meu trabalho e da minha capacidade de observação que não deixa pular nada, quer dizer, passar.
E pra quem já pulou tanto na vida, este pulinho aqui a baixo é só mais um...  E pra quem quiser meu conselho:
Se Joga!!

Esquizofrenia - TAROT ZEN OSHO


O homem é dividido. A esquizofrenia é uma condição normal do homem
 -- ao menos no momento atual. Pode não ter sido assim no mundo
primitivo, porém séculos de condicionamento, civilização, cultura e
religião transformaram o homem numa multidão -- dividida, separada,
contraditória... Contudo, pelo fato de essa divisão ser contrária à sua
natureza, lá no fundo, escondida em alguma parte, à unidade ainda
sobrevive. Porque a alma do homem é unitária, todos os condicionamentos,
no máximo, só destroem a periferia do homem. O centro permanece
intocado -- por isso é que o homem continua a viver. Mas sua vida
tornou-se um inferno.




Todo o trabalho do Zen é voltado para o como desfazer-se dessa
esquizofrenia, como desvencilhar-se dessa personalidade cindida,
como descartar a mente dividida do homem, como tornar-se
não-dividido, integrado, centrado, cristalizado.

Do jeito como você está, não se pode dizer que você é. Você não tem
um ser -- é uma praça de mercado: muitas vozes. Quando você quer
dizer "sim", imediatamente o "não" se apresenta. Sequer você consegue
articular um simples "sim" com inteireza... Dessa maneira a felicidade
não é possível; a infelicidade é uma conseqüência natural de uma
personalidade dividida.



Osho Dang Dang Doko Dang Chapter 3



Comentário:

O personagem desta carta traz um novo significado à velha idéia de
"estar entre a cruz e a espada"! Mas é precisamente nesse tipo de
situação que ficamos quando nos deixamos aprisionar pelo aspecto
hesitante e dualista da mente. "Devo deixar que meus braços se soltem
e cair de cabeça para baixo, ou deixar que as minhas pernas se soltem,
e cair de pé? Devo vir para cá ou ir para lá? Devo dizer sim ou não?"
E seja qual for a decisão que tomemos, sempre estaremos nos questionando
se não deveríamos ter decidido do modo contrário.

A única maneira de sair desse dilema é, infelizmente, soltar os dois
extremos ao mesmo tempo. Desse impasse você não vai conseguir sair
valendo-se de fórmulas, pesando os prós e os contras, ou tentando
resolvê-lo de alguma outra forma com a sua mente. Melhor seguir o
seu coração, se lhe for possível ter acesso a ele. Se não tiver,
simplesmente salte -- o seu coração começará a bater tão depressa
que não haverá engano a respeito de onde ele está!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

ViradO à ViradA

Meu amor ta virado,
Ta do avesso, ta assado.
Ta no contexto e
Não no contrato,
Ta no pretexto
No pretérito, futuro e
No contato de fato.
Meu amor ta virado de cabeça pra baixo.

Meu amor ta discostas,
Olhando pro lado.
Ta com os pés nas pontas,
Descalço no espaço.
Ta de laço amarrado
De banho tomado e
De ovo virado.
Meu amor ta de botas pisando nas poça.

Meu amor ta colado no estomago,
Ta de nariz torcido e
Umbigo nas costas.
Com fome de fogo,
Quem sabe até de jogo.
Daquele que pede no pelo,
Sangue, suor e cereja.
Meu amor ta na mesa junto co bolo de rolo.

Meu amor ta de jeito maneira,
Ta sem eira nem beira,
Ta no jongo, ta no coco.
Onde o beijo tem gosto e
Esquenta a maça do rosto.
Ta de brincadeira,
Vive de cambalacho.
Meu amor ta comigo pulando a fogueira.

Tum

terça-feira, 10 de junho de 2014

Paraquedas

Para o par:
Parábolas parabólicas
Persianas Perseguidas
Prosopopeias proparoxítonas
Prolongadas Profânicas
Pleonasmos Plesbianos
Parasitas Paracistos
Pregos preferidos
Pronome Problemático...
Porém
ha
Porém
Há Palavras Paralíticas.

Percebeu, pedregulho.

Tum
+- 1 ano atrás

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Futebol Passarinho



Futebol passarinho

A realização da Copa do Mundo no Brasil despertou uma grotesca procissão – cada vez mais enfadonha – de abutres e coveiros do Brasil em todas as frentes e latitudes. Erguendo uma verdadeira cortina de fumaça com seus incensórios e turíbulos para dominar a pauta e a percepção do momento, este variegado cortejo reúne de tudo. 
Conduzindo a custódia, vêm os que querem derrubar ou derrotar o governo. São de dentro e de fora do país, liderados neste pelos arautos da velha mídia, e lá pelos cardeais da City londrina, The Economist e Financial Times, ladeados por bispos e arcebispos como El PaísEl Mercurio, et alii. Em suas orações às vezes suplicantes, às vezes raivosas, alimentam a crendice de que a Copa pode ajudar a reeleger ou deseleger Dilma Rousseff em outubro. Esta ortodoxia se baseia em outra superstição, a de que nosso povo é despreparado para a democracia porque vota com os pés ou o estômago – não com a cabeça ou o coração. (Os mais ricos, pelo menos, têm o privilégio de votar com os bolsos e as bolsas).
Esta superstição tem uma variante à extrema-esquerda, qual seja, a de que as massas são sempre despreparadas, e que precisam de uma vanguarda lúcida para iluminar-lhes o caminho. O governo é o Anti-Cristo que deve ser eliminado, para que a verdadeira luz possa chegar aos fiéis. Então, dá-lhe foguetório e até louvação dos coquetéis molotovs dos black blocs, além das pedradas, sejam contra vitrines bancárias ou a Embaixada do Brasil em Berlim.
Mas há também o coro dos sacristãos. Dispersos pelo mundo inteiro, no nosso país ou pontificando na mídia europeia, nunca se viram tantos doutos intérpretes do Brasil. Qualquer jeguelhé joga suas jeguelhadas sobre a nossa “cultura da corrupção”, o nosso incurável pendor para a “violência”, para depender de “favores”, a nossa crônica “homofobia”, o nosso empedernido “machismo”, a nossa proverbial incompatibilidade com o “moderno”, o nosso sempiterno “racismo”, a nossa tara da “escravidão”, nossa inamovível “pobreza”, “falta de cultura”, “falta de projeção mundial”, onde se ajuntam nossa incapacidade para ganhar um prêmio Nobel, nossa música que “não têm o mesmo alcance mundial da salsa ou do reggae” (sic), e por aí se vai. Conforme o ângulo de onde fala o distinto se multiplicam os pronomes “nós” (a propósito, nós quem, cara-pálida?) ou o substantivo plural e coletivizado “os brasileiros”. Não se trata de negar que aquelas mazelas existam em nosso país. Mas as marteladas são tais que deixam a conotação de que ele é a cloaca do mundo, e que elas são nosso patrimônio exclusivo.
Assim, um país de 200 milhões de habitantes, oito mil quilômetros de comprido por oito mil de largo, com uma das economias mais complexas e uma cultura das mais ricas do mundo, se vê reduzido a uns poucos lugares-comuns, repetidos ad nauseam como se fossem grandes originalidades, descobertas, quando na verdade simplesmente invertem disforicamente a perspectiva dos outros lugares comuns – os eufóricos – da cordialidade, índole pacífica, democracia racial, etc. etc. etc. Estas ou estes vestais do templo jornalístico acham que estão inventando, em seu laboratório, o “verdadeiro” Brasil, quando de fato fazem parte simplesmente do ciclo que a medicina antiga chamava de “maníaco-depressivo”. Tenho, inclusive a certeza de que aqueles defeitos de nosso “caráter” desaparecerão de muitos dos discursos como por encanto em novembro, caso alguma oposição vença em outubro.
E no passar da procissão sobem aos céus – ou descem aos infernos – as comparações absurdas, como as do momento atual com a ditadura de 1970; ou as inverdades marteladas, como a de que é a Copa que está roubando dinheiro da educação e da saúde (ao invés do superávit primário e da queda da CPMF); levantam-se os estandartes oportunistas anti-Copa, juntando-se a reivindicações legítimas em campos como educação, saúde, etc., ajudando a esvaziá-las, em troca de quinze letras ou quinze segundos de fama nas manchetes ou telas nacionais e internacionais.
Fica difícil discernir o real para além deste fumacê de crendices. Mas num raro momento em que consegui me desligar desta atmosfera asfixiante, por uma nesga da cortina tive uma visão deslumbrante (já que para estes sacerdotes do caos devo ser um destes caiporas, que pensa com os pés, embora eu tenha sido goleiro, ao invés do cérebro e do miocárdio). De repente, num estalo de Vieira, vi que no dia 13 de julho, em pleno Maracanã, alguém vai erguer a taça aos céus, renovando mais uma vez a sua consagração, oficiada por Bellini naquele 29 de junho de 1958, no estádio Rasunda, em Estocolmo, na Suécia.
Como acontecia na época, ouvi tudo pelo rádio e vi em fotos no dia seguinte e somente algum tempo depois pude assistir nos cinemas a missa gloriosa daquela partida e daquele verdadeiro gestus brechtiano, stanilavskiano, da sagração da Jules Rimet. De fato, foi ali que o caneco ficou sendo nosso, realidade apenas confirmada em 1970. Naquele momento houve uma verdadeira transubstanciação (como na missa católica). Foi ali num gesto que começou prosaico (“mostra a taça, Bellini, pra que a gente consiga fazer uma foto melhor”, pediram os jornalistas) e se transformou no gestus teatral que transformou a Taça Jules Rimet ou do Mundo no imortal Caneco do Brasil. Dali pra frente, em qualquer arena, em qualquer parte do mundo, da várzea mais pobre ao estádio mais suntuoso, espraiou-se o gesto de erguer a taça da vitória. Foi ali, naquelegestus, que a taça se transfigurou em cálice, cheio de sangue, suor e lágrimas, o sangue e o suor que se dão dentro das quatro linhas, e as lágrimas da vitória ou da derrota, como as que foram derramadas em 29 de junho de 1958, em Rasunda, ou em 16 de julho de 1950, no Maracanã.
Isto porque o futebol tem algo de muito parecido com a situação de dois amantes. Por mais história anterior que haja, condições de vida e condicionamentos anteriores, labirintos percorridos ou expectativas de caminhos futuros, oposições familiares ou cumplicidade de amigos, egos e superegos a equilibrar e a vencer, etc., etc., etc., sempre há o momento em que os amantes estão frente a frente, fechados no círculo sagrado do imortal gestusamoroso, tenha este círculo o formato que tiver: cama, tapete, sofá, esquina, degrau de escada, chuveiro, não importa.
No futebol há a mesma magia da presença de um espaço do sagrado. Por mais distâncias geográficas, sociais, políticas, culturais e outras que os times oficiantes percorram, por mais cartolas que haja, tudo se fecha naqueles momentos “dentro das quatro linhas” em que os oficiantes – jogadores, técnicos, bancos de reservas, massagistas, etc., torcidas e até gandulas, juízes e bandeirinhas, vão se medir e oficiar o sagrado rito da vitória, derrota ou empate.
A transubstanciação simbólica se confirma pela mudança de gênero e de registro linguísticos, que nada tem a ver com machismo, sexo ou preconceito: a taça aristocrática passou a ser o caneco popular. Aliás, se a gente olhar bem, dá para ver que a forma exterior daquela Jules Rimet tinha menos a ver com uma genérica caneca do que com um caneco – definido como uma “caneca alta e estreita” (Houaiss). Daí pra frente, não importava o formato do troféu: o vencedor “levava o caneco pra casa”. E ainda leva. E vai levar, pelos séculos dos séculos, amém.
14.05.29_Flávio Aguiar_Futebol passarinho_fotos_
Tenho diante de mim duas fotos: Fritz Walter, o capitão de 1954, levado em triunfo pela torcida em Berna, na Suíça. Ele segura a taça como se ela fosse feita para tomar a popular cerveja, ou a aristocrática champanhe: um objeto prosaico; e Bellini, erguendo o troféu sagrado, como se ele fosse um elo de ligação entre o céu e a terra, como as mãos para o alto do suplicante, o cajado do peregrino, o olhar do amante que se perde e se encontra no universo.
No 13 de julho de 2014, em pleno Maracanã, alguém vai erguer a taça aos céus e levar o caneco pra casa.
Por isto, por sobre a malta velhaca e falsária das senectudes tremulinas(Maiakovski + Mário de Andrade), gloso Mário Quintana:
Os abutres, que hoje atravancam o caminho, eles passarão. O futebol, passarinho.
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