A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão.


às vezes tenho vontade de entrar dentro de mim e arrancar fora este buraco que habita em mim, dai então, pular pra dentro dele!
Turmalina Antônia

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Akim Akimitch

Trixmix cabaret, outrubro/2011

"(...) O terceiro era Akim Akimitch; creio que nunca conheci um indivíduo tão estranho como esse tal Akim Akimitch. A sua recordação ficou-me fortemente gravada na memória. Era um homem alto, seco, de pouca compreensão, analfabeto, e tão rabugento e rigoroso como um alemão. Os condenados riam-se dele; mas alguns fugiam do seu convívio por causa do seu feitio melindroso, questionados e implicante. Andava constantemente provocando arruaças, dizendo insultos e brigando com eles. O seu sentimento de dignidade era fenomenal. Assim que observava alguma irregularidade, não descansava enquanto não a emendasse, fosse ela qual fosse. Era o cúmulo da ingenuidade. Por exemplo: ralhava com os presos e pregava-lhes sermões, fazendo-lhes ver como era feio serem ladrões e aconselhava-os, muito sério, a que não roubassem. Tinha servido no Cáucaso, no grau de alferes.(...)
(...) Mas os presos, entretanto, apesar de troçarem de Akim Akimitch, devido à sua pouca esperteza, respeitavam-no por causa da sua escrupulosidade e de dua habilidade.
Não havia ofício que Akim Akimitch ignorasse. Era carpinteiro, sapateiro, pintor de paredes, prateiro, serralheiro e aprendera tudo isso no presídio. Era autodidata; via alguém fazer uma coisa e em seguida fazia-a ele logo também. Confeccionava ainda caixinhas, cestinhos, lanternas e brinquedos infantis, que vendia na cidade. Assim, tinha sempre dinheiro que empregava depois em roupa interior fina; em cosméticos e em colchões dobráveis. (...)"

trecho do livro Memórias da casa dos mortos - Dostoiévski

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