"O que ocorre na realidade quando você morre é que seu cérebro para de trabalhar e seu corpo apodrece, como aconteceu com o Coelho, quando ele morreu, e nós enterramos na terra, nos fundos do jardim. E todas suas moléculas foram partidas em outras moléculas que se misturam à terra, são comidas por vermes e vão para as plantas, e se a gente cava no mesmo lugar, dez anos depois, não vai encontrar nada, exceto o esqueleto. E mil anos depois, o esqueleto também desaparece. Mas, tudo bem, sendo assim, porque ele é parte das flores, da macieira e dos arbustos.
Quando as pessoas morrem, às vezes, são colocadas em caixões, o que significa que elas não se misturam com a terra por bastante tempo, até a madeira do caixão apodrecer.
Mas a Mãe foi cremada. Isso significa que ela foi colocada num caixão e queimada e virou pó, e depois cinza e fumaça. Eu não sei o que acontece com a cinza e não pude perguntar no crematório porque não fui ao funeral. Mas a fumaça sai pela chaminé, entra no ar e tem vezes que eu procuro no céu e fico achando que há moléculas da Mãe lá em cima, ou nas nuvens sobre a África ou sobre a Antártida, ou caindo como chuvas nas florestas tropicais do Brasil, ou como neve em algum lugar."
(...)
Trecho do Livro O estranho caso do cachorro morto de Mark Haddon
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