A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão.


às vezes tenho vontade de entrar dentro de mim e arrancar fora este buraco que habita em mim, dai então, pular pra dentro dele!
Turmalina Antônia

domingo, 30 de novembro de 2014

Estás Só


Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge. 
Mas finge sem fingimento. 
Nada 'speres que em ti já não exista, 
Cada um consigo é triste. 
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas, 
Sorte se a sorte é dada. 

Ricardo Reis, in "Odes" 

domingo, 9 de novembro de 2014

Altos e Baixos

Por Guilherme Becker

FIM

Quando eu morrer batam em latas,
 Rompam aos saltos e aos pinotes,
 Façam estalar no ar chicotes,
 Chamem palhaços e acrobatas!

 Que o meu caixão vá sobre um burro
 Ajaezado à andaluza...
 A um morto nada se recusa,
 Eu quero por força ir de burro.


Mário de Sá Carneiro

TABACARIA


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
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Álvaro de Campos

Mundo Grande

Por  Carlos Drummond de Andrade

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem minhas dores.
Por isso gosto tanto de contar.
Por isso me dispo,
por isso grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! nós te criaremos.

domingo, 2 de novembro de 2014

FreqüentemenTe

Eu; m'á mente
fraca... temente... temática...
face de frente
meu frete é de graça
assim sereno
fácil de molir
e a frágil força
de te sentir
tem-me toda
freqüente quente
eu; fogazza...

Turmalina Antônia

sábado, 1 de novembro de 2014

No buteco Ali da esquina

Vou Vivendo Assim
No Meio Do Caos
Som Alto Tocando Assim...
" Se quiser me encontras Só
Agora ou nunca mais"..,
Pessoas Bebendo Assim
Sem Luz Nos Olhos
Televisão Ligada Assim
Violências Visuais,
Poluição Sonora
E Muito Mais
.
Meu Corpo Cansado
Cataclismo de IdeIais
Curvatura e tudo o mais,
Estou nos trinta enfim,
Atrasada e perspicaz.
Auge de Algo de Alga
Que chegou ao fim
Além do que imaginais....

Tunízia M.

Mãos Dadas

MÃOS DADAS 

por Carlos Drummond de Andrade



Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.